03 março 2014

Bailarino






Sentia-se sufocar.
O calor e a fumaça azulada dos motores constantes.
Desceu do ônibus porque sentia-se sufocar
                                        - o calor e a fumaça azulada dos motores constantes.
Também o escuro.
Desceu e cambaleou passos pelo túnel,
Um, dois, três...  tic tacs de relógio pelo túnel.

Não de supetão mas silenciosamente caiu,
Cada membro atingindo o o chão de uma vez.
Caiu em meio a fumaça,
Um cair bailarino.

Não de supetão mas silenciosamente as ideias esvaíram-se.
Desmanchando em meio aquoso para longe.
Esvaíram-se em meio a fumaça,
Um esvair bailarino.

Não sei se alguém o percebeu.
Se percebeu não parou,
Se parou não agiu
E se agiu foi tarde demais.

Não de supetão mas silenciosamente morreu no meio do túnel
E - apesar da distância do sol - morreu cuidadoso,
Um morrer bailarino.