Palavras... é preciso que eu me agarre a elas ainda que
seja sempre muito difícil falar de algumas coisas, ainda que seja sempre muito
difícil verbalizar a amizade, o companheirismo, o cuidado, o compromisso e as
pequenas alegrias de cada dia. Preciso das palavras para tentar transparecer
gratidão como um olhar ou um abraço e para contar uma história muitas vezes
contada, mas que é única em seu essencial. Como Clarice Lispector:
“Assim é que essa história será feita de palavras que se
agrupam em frases e destas se evoca um sentido secreto que ultrapassa palavras
e frases.”
Para que comece certa essa história, que termina com um
começo de muitas outras, é preciso relembrar alguns detalhes, pois os detalhes
não são o corpo, o órgão ou a articulação, mas a alma de um todo.
Detalhes como nossa inexplicável síndrome de auditório,
nosso talento nato para cantar “parabéns pra você” em aulas especificas e nossas
intermináveis polêmicas sobre o mais irrelevante assunto. Uma piadinha pra
começar a aula (e elas não seriam tão inspiradoras, Bebeto, não fosse sua boa
vontade e seu bom humor sempre presentes) rimas de contexto levemente pornográfico
para decorar fórmulas (e eu não gosto de citar nomes, mas foi o Bizú) e frases
de efeito (efeito retardado talvez) do tipo: “eu sabia que vocês iam falar
isso”. Detalhes como lagrimas de despedida, uma canção “para amar-te” e uma
música no violão que dizia assim “eu não consigo te esquecer”.
Três anos, 600 dias, incontáveis risadas. Uma causa e um
efeito. Nossa causa: obrigação e comprometimento com o futuro. O efeito: uma
amizade poderosa. Preciso que entendam que quando digo poderosa não quero dizer
que não foi ponteada por muitos conflitos, eis que somos seres humanos. Digo
poderosa porque ela tornou a aparente problemática de nossas diferenças, e são
muitas, um aprendizado e foi capaz de se
sobrepor a solidão de quem vinha de fora (ou teve que mudar de turma por
motivos de força maior). Essa amizade que acabou por se tornar maior do que
tudo, ainda que a duras penas, é a nossa maior conquista, e ainda que sigamos
caminhos diferentes cada um de nós da insubstituível “3.0 flex” levara consigo
o legado de ter descoberto dia após dia a possibilidade de união e
companheirismo acima de tudo. De Carlos Drummond de Andrade:
“As coisas tangíveis
Tornam-se insensíveis
À palma da mão
As coisas findas
Muito mais que lindas
Estas ficarão.”
E a dedicação, a paciência de cada dia que nos trouxe até
aqui. É preciso que eu fale delas com aquela gratidão que se vê no olhar e se
sente no abraço. É preciso que eu fale de nossos professores que nos ensinaram
daquilo que não se encontra em livros.
O professor está além de qualquer adjetivo, pois resguarda o
paradoxo da existência sendo o sujeito simples que oculta todo o mistério da oração
subordinada de nossa vida. Subordinada
por que muitas vezes é necessário que atravessemos um rio, e ainda que não
tenhamos consciência disso, há sempre um mestre, sempre um professor, que se
faz canoa, bastando que nós rememos.
O professor tem nas mãos a possibilidade de formar um juiz,
um engenheiro, um médico, outro professor. Um juiz que não apenas conhece a
lei, mas serve à justiça, um engenheiro que não planeja prisões, mas abriga
famílias, um médico que não decide sobre vidas, mas salva vidas, um professor
que não apenas aprende a ensinar a matéria proposta, mas aprende a
possibilidade que tem de fazer do mundo um lugar melhor, formando acima de
profissionais, seres humanos.
Nilza, Regina, Ana Laura, Mariana, Ronaldo, Rômulo, Júlio,
Toy, Bizú, Cyd, Diego, Tarta, Elder, Bebeto, vocês fizeram dessa possibilidade
um lema, e nos permitiram conhecer da vida além de fórmulas, concordâncias e
artérias, alguns detalhes essenciais. E quero dizer que:
“Que trago-te um recado
Houve gente que praticou uma boa ação
Manda dizer-te que foi porque
Teu exemplo convenceu
Houve gente que venceu na vida
Manda dizer-te que foi porque
Tuas lições permaneceram
E houve mais alguém que superou a dor
Manda dizer-te que foi a lembrança
De tua coragem que ajudou.”
Quando... Quando você
era um peixe... Não, não era isso. Quando a gente percebe que todas aquelas
pessoas com quem convivemos tanto tempo e tão intensamente... Quando percebe
que todos aqueles momentos, aqueles detalhes e aquelas risadas, não mais farão
parte de nossa rotina, sentimos a ausência, mas é preciso que eu mais uma vez
use as sábias palavras de Carlos Drummond de Andrade que diz assim:
“Por muito tempo achei que a ausência era falta,
E lastimava ignorante a falta.
Hoje não lastimo
Não há falta na ausência.”
Não há falta, é um momento que se encerra. Assim é que a
vida, toda feita em ciclos, é sempre calcada por momentos que nos envolvem e são
vividos com a certeza da eternidade... Depois passam, ficando sua ausência, mas
não sua falta, caso contrário estaria a vida sempre faltando. E a ausência
inevitável que se faz no dia a dia não se faz no coração, pois ele não se
limita ao tempo, e as marcas de cada momento, de cada pessoa ficam gravadas e
são eternizadas em nós, moldando a essência do que somos e do que seremos.
Assim mais uma vez quero falar de gratidão, de uma gratidão exposta em um
sorriso aberto, e entregar esse sorriso a todos que nos marcaram, seja com
ensinamentos, com abraços, com afetos ou mesmo com a simples presença, seja com
broncas, com conselhos ou mesmo com uma carranca mal humorada.... Oferecer esse
sorriso à diretoria e a coordenação, sempre cuidadosas... E
oferece-lo ainda mais radiante aos pais, que nos permitiram estar aqui e nos
ofereceram seu amor para que existíssemos.
Resta ainda uma gratidão, esta é clara e sossegada.
Absoluta. Não está no olhar, nem no abraço nem no sorriso. Esta não pode ser
vista nem percebida, apenas pode ser sentida. Esta ofereço ao Pai invisível que
nos ilumina e nos permite alcançar nossos sonhos, que flore e perfuma nossa
existência e nos permite estar aqui hoje, nessa solenidade que é a consagração
de nosso sucesso. Peço e rogo que em cada momento de nossas vidas daqui para
frente possamos ser justos e amar. Amar o raio de sol que anuncia o dia, amar a
terra que nos alimente e a natureza que nos permite ser. Amar a vida e todo
pulsar. Amar o próximo, amar todos, amar sem excluir. Peço enfim:
“Senhor fazei-nos um instrumento de vossa paz.”
De resto é só ter fé que no final dá tudo certo, né isso?!