16 abril 2011

Janela


Eu era um homem sério pois havia de ser dessa maneira. Andava sempre mascarado , escondendo atrás de uma rotina friamente calculada a desordem que havia dentro em mim. Um mascarado que não se traduzia heroi, nem tampouco bandido ou artista, provavelmente um fugitivo, que não permitia ser olhado nos olhos com medo de serem flagrados nestes a tristeza e o fracasso. Dessa maneira nunca havia sido descoberto, pensava serem os meus escudos invencíveis... até que ela chegou.
Tentei me defender de todas as maneiras, me armei com todas as armas e reforcei meus escudos, mas ela não lutou. Desviou-se de cada arma, achou passagem em cada escudo, arrancou-me a mascara, olhou nos meus olhos e foi entrando nas pontas dos pés.
Tratou de dar jeito na desordem, colocou tudo em seu devido lugar, o que já não servia jogou fora, o que estava quebrado consertou e depois de todas as feridas curadas abriu a janela deixando o sol entrar.
Não sei dizer quanto tempo ela ficou. É que deixei de me importar com os números, deixei de me importar com o tempo... só sei que um dia a vi definhar a cair fraca no chão. Desesperado quis pegar nas armas, quaisquer que fossem, e lutar. Mas ela me disse num tom sério que já era hora, que agora seria espuma do mar. Virou-se para o lado, como quem sugere um cochilo e fechou lentamente seus doces olhos.
Novamente abriram-se as feridas, o fracasso voltou com suas malas carregadas com as tristezas, com as angústias. Reviveu a desordem e fechou minha janela.
Por muito tempo voltei a ser aquele fugitivo mascarado, voltei a minha rotina calculista e pensei que jamais veria o sol novamente.
Porém existia um cantinho que havia ficado marcado pela passagem dela e um dia, depois de muito relutar, fechei meus olhos e fui para lá. Afastei a tristeza, afastei a angústia e cheguei aonde algumas flores tímidas cresciam... me flagrei lembrando daqueles tempos felizes e percebi que lá fora um vento carregado de maresia forçava a janela.
Pensei que talvez devesse abri-la.


"Quando o sol bater na janela do teu quarto olha e vê que o caminho é um só" Renato Russo





Um comentário:

  1. Como pode um texto desses não ter comentário nenhum? Pára de se esconder, Mari! Chame a atenção das pessoas pra lerem o que você tem a dizer!

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