29 janeiro 2016

Pena de Pavão

Chegou às beiras
de um suspiro morno de vento
luminesceu
de um sussurrado  infinito grito
pousou descalço
numa areada dança Luzia
cruzou o sol
                      Yesu   
                                Marrom
                                         um menino.


Inaugurou-se em meio aos bichos
              e os fez mansinhos
                                 à sua chegada
cada cabeça que
as colhia e serenoso
 sussurrava
a valsa lenta dos moinhos em
seus ouvidos cata-vento
          até fazê-los todos molinhos
          até tê-los todos babentos


A cada vez que amanhecia
designava ao sol
                               -  lantejar sobre gotas orvalhadas
                                  desenhando refrações de cintilância,
para depois ordenar às pedras
ser-se pedras
na continêcia de silêncio
e exatidões

Por quanto pisasse sobre a terra
     Yesu   
         Marrom
             tão menino
       movia moléculas.

À noite
    dançava o delírio dos cometas
    e a ciranda das estrelas
    em seus olhos
                           via láctea
Num devaneio aquático
lançava pinotes bailarinos
mapeando a areia árida
                             depois sonhava

Sonhou auroras róseas sobre um mar dourado atrás da pena de um pavão

  um planeta invisível
       na terra andaluz
       de espíritos transparentes
e       toda      alma      apaziguada
                                                            
Acordou suspirado e exaltante
e mais cruzou a areia trôpego
e depois venceu o deserto  
e depois caminhou cem luas
e depois a jornada de setecentos e cinqüenta dias

Estatelado na floresta

              parou à sua entrada

Perdida das vistas do sol
 a floresta  negrume
Acabrunha os respiros do dia.
Nada em movimento e
nenhum som.
  
Soluçantes
as folhas mortas
de arbustos roxos e prostrados
escondiam
a mágica criatura
     da pena portal
           do mundo sonhado

Yesu
 descalço
escorrega na mata adentro
         e perde das costas o deserto
          e cala na voz a valsa lenta
          e vai ficando melindroso
de um pisar
 todo em silêncio

Os pezinhos marrons e miúdos
deformam o brejo fétido
de árvores
 leprosas
que cospem
 ranhuras
contra as trepadeiras brutas
de espinhos pontudos
que o lanham
a testa

O chão encharcado borbulha olhos
 de mal olhado
que o rabiscam
em corpo menino
de  cicatrizes
entre as costelas

Os ouvidos de inspiração
a cada moita
mais parca
criam ruídos lamuriosos
por debaixo das copas mortas

Tirurugu iu iu iu  xiiiiaa
Tiruuurugu xiiiaa riui uiuiu

Tão marrom
     quase vai sendo brejo
     quase vai sendo bruto
e grita em resposta
contra o grunhido
do nada,
implorando aos charcos
     quase vai sendo mata


Transparente
meio espírito
liquefaz- se em
veias d’água,
vai carregado
em trombaduras,
via cortes muculentos
que o entregam
à cascata

No cume da pedra exata
 que sustenta as prateadas
 descidas d’água
o pavão airoso
tinge de azul
a luz negrume

Yesu disforme
de um olhar
tormento
no sonhado
mundo
se quer em
contento
 e sonha
sua alma
acamada em
 quentura

Numa aderência improvável
ascende ao afeto
por quanto abraça uma
a uma as pedras verticais
que o levam ao cume
por quanto abraça uma
a uma as pedras e
tenta ir ao cume
por quanto abraça uma a
uma por quanto fita indelével o
cume por quanto abraça uma
e depois nenhuma há
outra que o rejeita no
quase abraço do cume.

Estatelado no chão
Alonga a um retalho de céu
A pergunta do olhar magoado

Pende ao lado a cabeça
de olhos chorosos
que derramam planetas
e mira a mãozinha dormente
no lado mesmo em que vê
 antes de anoitecidas
as íris lunetas,
 portal aceso e
 luminante,
tanta cor!
entre os dedinhos
         amortecidos e
                     agonizantes

uma pena de pavão.

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Mas se queres bem saber
vá falar com Yesu
diga a ele
 - bem sereno e bem alado -
que tu também quer mais andar
na morada de cristal
atrás da pena de pavão
do mundo

sonhado

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