29 janeiro 2016

rio (ou breve história da última vez que te vi)

cala-te
que ninguém
mais escutará
tua voz aquática
e haverá no futuro
brotinhos dados
a poesia
que nem saberão
da concreta geografia
que te esconde

sobre ti vai uma terra em que a liberdade terá preço insalubre e fétido
mas subirá sobre arcos de concreto oníricos ao luar

sobre ti habitarão
feras dementes
que sonham a
liberdade mas não
ousam tocá-la e
por isso calam-te
tu és livre demais
muito dado a não parar
diante de nada

em cima de ti
vai um matemático
e colocará o viaduto
embaixo do viaduto vai
um bêbado e colocará o carnaval
entre ambos
dançarão o broto
e o velho que voltou de Portugal
tocando um surdo
 e dizendo junto as massas que
os muros são de purpurina
    - tão  loucamente saudosos que estão
de seus espelhos

enquanto fingem a
liberdade para que
não vá outro calá-los
como a ti
molham-se de uma
água inexistente e
riem aglutinados
enquanto tu rio
ficará calado

             só saberá de ti
             um poeteiro anarquista
             que por hora desista mas talvez consiga
             te fazer
                       - In Memoriam -
             algum festejo local



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