cala-te
que ninguém
mais
escutará
tua voz
aquática
e haverá no
futuro
brotinhos
dados
a poesia
que nem
saberão
da concreta
geografia
que te
esconde
vê
sobre ti vai
uma terra em que a liberdade terá preço insalubre e fétido
mas subirá
sobre arcos de concreto oníricos ao luar
sobre ti
habitarão
feras
dementes
que sonham a
liberdade
mas não
ousam
tocá-la e
por isso
calam-te
tu és livre
demais
muito dado a
não parar
diante de
nada
em cima de
ti
vai um
matemático
e colocará o
viaduto
embaixo do
viaduto vai
um bêbado e
colocará o carnaval
entre ambos
dançarão o
broto
e o velho
que voltou de Portugal
tocando um
surdo
e dizendo junto as massas que
os muros são
de purpurina
- tão loucamente saudosos que estão
de seus
espelhos
enquanto
fingem a
liberdade
para que
não vá outro
calá-los
como a ti
molham-se de
uma
água
inexistente e
riem
aglutinados
enquanto tu
rio
ficará
calado
só
saberá de ti
um poeteiro anarquista
que por hora desista mas talvez consiga
te
fazer
- In
Memoriam -
algum festejo local
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