28 setembro 2016

Ausência

são duas lágrimas que pendem miúdas
são minhas
são duas velas
deixei-as acesas no centro do peito
vela de preencher em mim mesma
as vazias regiões internas

as duas chamas são jades
me espreitam
vigilantes queimando a garganta
enquanto insisto em fitar os dedos
 e os recolho
depois os beijo
sussurro na beirada das unhas
 a ausência da tua barba ruiva
o peso inexistente de tua mão em
minhas pernas

e depois é ainda preciso dizer a elas
que se acalmem recolham o desejo
que não se cruzem
que fiquem quietas
que se abram e eu chegue ao seu meio...

é uma gota que pende chorosa
chama acesa no meio das pernas

cuspo em meu
dedo e a faço
subir
por entre os rins me
queimando as
entranhas
por entre as vértebras
rasgando as
costelas
até trancá-la também
junto ao peito...

sâo já tres jades espreitando a garganta
e eu calada dizendo em silêncio

a tua ausência

em minhas pernas

a tua ausência

por entre os meus dedos


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