28 setembro 2016

Rota

foi metendo-se em fazer de toda rota uma praça e
depois pôs o peito aberto como quem
abre as pernas                       
e as pernas abertas como
quem abre os braços
e os dois braços
abertos como quem ganha asas 
tonta
foi ficando preta oblíqua
era tão branca tão
limpa
pisando o asfalto pelas solas negras achou
 parecido com liberdade: ir
sendo preta das solas ao corpo abrindo
as pernas até o convexo
uma puta uma pena! 
grávida da cidade gestando
avenidas enervadas nas entranhas
bueiros
muros
placas e
 viasduras que as ondas não derrubam, numa  
entranha fêmea digestora atávica de
coisas espelhadas tanto quanto mar e
depois grita e urra e geme e
vão os homens da saúde tapar-lhe a
buceta com jornais e coisas
mortas. se parir
descem às enxurradas feito abutres
de seu bucho empretecido e líquido
outros tantos homens pretos e
 com certeza bêbados
emporcalhados fedendo à merda.
               entupida até que os bueiros alaguem,
              convulsionará
                na praça - por medida sanitária.







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